Foi difícil tomar a
decisão de escrever esta carta, mas não vejo outra alternativa. Cansei de
esperar por atitudes que justificassem minha permanência. Coloquei-me em seu
lugar para enxergar a vida como você e tentar compreender a direção que você
seguia. E, por anos, muitos anos, fui compreensiva e sempre estive ao seu lado; apoiando-te, dando força nos momentos mais desesperançosos, quando o medo e a fraqueza
tomavam conta de seu ser, eu estava lá, ao seu lado, sempre!
Sim, há boas
recordações, não posso negar. Os sorrisos sinceros, a ajuda despretensiosa, o
cooperativismo, o exercício da cidadania, a perseverança em acreditar quando
tudo parecia não dar certo, a mão estendida a quem precisava... Tudo isso me
faz sentir muito orgulho de você. Mas procuro-te e não te encontro mais. Tenho te
observado atentamente e você só pensa em si mesmo, os sorrisos escondem um
sarcasmo afiado, pronto para ferir, seja quem for, apenas pelo simples prazer
de machucar os outros.
Hoje, as aparências
valem mais que o caráter, e seu círculo de amigos, se é que eu posso chamá-los
de amigos, se encontram desde que possam ter alguma vantagem. Não existe mais o
pensamento coletivo. O “eu” é o centro do seu universo. Sinto-me excluída da
sua vida e não vejo mais sentido em fazer parte dela. Não penso como você, minhas
prioridades são outras. Ao seu redor só vejo escuridão e eu quero a luz. Quero
iluminar seu caminho, mas você escolheu uma estrada pela qual não quero trilhar...
É muito difícil dizer
essas palavras e desistir de você depois de tantos anos juntos. Mas o vazio
está por toda parte, consumiu todos os valores que criamos juntos e eram tão
sólidos. Foram esmagados pelas mentiras, pelas falcatruas, pelos golpes que
você se dispõe a cometer sem pensar nas consequências e quando eu te questiono,
você solta aquela gargalhada sarcástica e em tom de deboche diz:
- Não preciso de seus
conselhos, de seu apoio, nada dará errado. Aqui o errado é o certo. Pessoas
como você (no caso eu), só se dão mal na vida. Eu estou no topo. Se quiser
ficar comigo, terá que me aceitar. – Tentei fazer você enxergar a vida de outra
forma. Mas estou cansada. Não há mais perspectiva...
Quando tudo ruir,
talvez você se lembre de mim. Mas será tarde demais. Aliás, já é tarde demais.
Para mim, não dá mais.
Adeus!
Assinado,
Esperança.
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Muito lindo!!! Parabéns!!!!
ResponderExcluirUm dia eu fui Esperança...Que lindo, que verdadeiro, que sério...amei!
ResponderExcluirUma belíssima prosa poética. Abraço, cara poetisa, JG
ResponderExcluirUma carta em forma de poema! Às vezes acontecem coisas assim na vida das pessoas. Graça e paz! Feliz semana,Dilma.
ResponderExcluir'Um texto maravilhso, com palavras sensíveis. Parabéns cara Marcela. Abs Chris'
ResponderExcluirProfunda! Sensível! Sincera! Uma carta escrita com tintas do coração...onde cada palavra foi regada talvez com alguma lágrima que não se segurava...e caia! Um abraço!
ResponderExcluirOlha... eu poderia ter escrito esta carta para duas pessoas que conheço bem e com quem convivi nesses cinquenta anos de vida - ou melhor, 48, pois nos últimos 2, eu me retirei.
ResponderExcluirLevi Wood has said it perfectly. Nothing better.
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